segunda-feira

Alguma certeza deve existir


L'Eclisse, Michelangelo Antonioni, 1962

Um mês depois de o ter visto na Cinemateca, quando menos esperava dou com esta «nota de rodapé» em Bartleby & Companhia (um livro que cita muito e que também é muito citável), de Enrique Vila-Matas, na edição portuguesa da Assírio & Alvim, de que aqui fica um excerto:

(...)Tudo isso conduziu Antonioni a pensar num filme que se chamaria O Eclipse e falaria de quando os sentimentos de um casal acabam, se eclipsam (como, por exemplo, se eclipsam os escritores que de repente abandonam a literatura) e toda a sua antiga relação se desvanece.
Como nessa altura fora anunciado um eclipse total do sol, dirigiu-se a Florença, onde viu e filmou o fenómeno e escreveu no seu diário: «Foi-se o sol. De repente, gelo. Um silêncio diferente dos outros silêncios. E uma luz diferente das outras luzes. E depois, a escuridão. Sol negro da nossa cultura. Imobilidade total. Tudo o que consigo pensar é que provavelmente durante o eclipse também os sentimentos se detenham.»
No dia em que se estreou O Eclipse disse que tinha ficado para sempre com a dúvida se deveria ter encabeçado o seu filme com estes versos de Dylan Thomas: «Alguma certeza deve existir, / se não de amar, ao menos de não amar.»(...)

Para ler o original, e outra tradução, ver Seta Despedida.

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