sábado

Time after time



Sou uma rapariga informada, leio jornais, vou ao cinema, concertos, exposições, teatro, conferências, blogues... Exsudo cultura por todos os poros. Portanto, é natural que não me passe ao lado "o grande acontecimento cultural do momento" (after Mexia): Music Videos From the 80's (via Serendipity).

Acordei cedo (9 da manhã para os meus padrões de sábado é normalmente impensável), com obras na casa da vizinha, estava mau tempo, decidi não ir à praia e aproveitar para fazer arrumações. Mais logo, Cinemateca (O Eclipse, de Antonioni)
e depois, caso não fique demasiado perturbada - é que isto dos filmes mexe muito comigo - temos ode a Chet Baker (ai, paixão) por Laurent Filipe (trompete e voz) no Maxime. Que belo programinha.

Entretanto dispenso algum tempo a percorrer o site supracitado, para chegar à estranha conclusão que o que ali vejo e ouço não me desperta grandes emoções. Estranho, porque nasci em 77 e, como quase toda a gente, desde idade tenrinha, sempre gostei de ouvir música. Música foleira sobretudo nos anos 80, género em que a década foi particularmente profícua. Hoje em dia o que seria correspondente já não é foleiro (ou piroso, como preferirem). É tão só e apenas medíocre. Adiante. Há coisas como "You spin me round (like a record)", dos Dead or Alive, que adoraria voltar a dançar uma noite destas, já referido pela Fernanda Câncio, que na altura ripava o cabelo com sabão. Eu era então menorzinha, mas sonhava com uma permanente que me deixasse toda frisada e que a minha mãe nunca autorizou. Felizmente.

Voltando ao site, existe um rol de "telediscos" (sim, como se dizia antigamente) bastante extenso, não conheço muitos de nome, mas aposto que se visse todos os vídeos descobriria mais umas quantas pérolas. Lá pelo meio também há coisas que não encaixam de todo na "música foleira dos anos 80". Joy Division, New Order, Sonic Youth, Pixies, Butthole Surfers, Faith No More, Beastie Boys, Kraftwerk, Dinosaur Jr., Iggy Pop, Laurie Anderson, Leonard Cohen, Roxy Music, Duran Duran, só para citar alguns. (Ok, quanto a estes últimos poderá não ser consensual.) Enfim, uma grande misturada. Encontro várias coisas que constavam das cassetes que gravava da rádio com compilações das minhas músicas preferidas (tudo aos bocados, um caos) e dos Hit Parades que pedia que me oferecessem pelo Natal.

Mas eis que de repente me ocorre a música que me deixa num estado de absoluto embevecimento nostálgico - Eternal Flame, das Bangles (1989) - e cujo vídeo, para grande pena minha, não está no site. Ora atentem na letra (até fico arrepiada):

Close your eyes, give me your hand, darling
Do you feel my heart beating
Do you understand
Do you feel the same
Am I only dreaming
Is this burning an eternal flame


E mais à frente, no auge:

Am I only dreaming
Ohhh an eternal flame


Pá, esta música... Data da altura em que me apaixonei pela primeira vez. Teria onze ou doze anos. Finda a escola primária (onde havia um menino que queria casar comigo, até me chegou a oferecer um anel de noivado da loja de bijuteria do avô, mas que eu recusei porque não sentia nada por ele), um colégio novo, cheio de gente que eu não conhecia. O coração palpitou loucamente assim que o vi. E o mais bonito é que foi mútuo. Durou cerca de quatro anos. Namorámos à distância durante bastante tempo, envergonhados. Ele escrevia-me cartas, que metia às escondidas dentro da minha mochila. Adorava vê-lo jogar à bola, olhava-o de esguelha, com ciúmes, quando ele falava com outras, e coisas assim. Mas eu fazia-me difícil e às tantas ele fartou-se de tanto pudor e tomou medidas drásticas: fez-se amigo das minhas amigas, para me convencerem a deixar-me beijar na boca, com a língua e tudo a que ele tinha direito (uns apalpõezitos, vá). Caramba, já era tempo. Acabou por ser um episódio desastroso (mas nada do que possam estar a pensar). Como há males que vêm por bem, tornámo-nos finalmente "namorados". E nas festas de anos dançávamos o Eternal Flame em registo "slow", agarradinhos, a tremer de emoção.

[Em homenagem à primeira paixão, ao primeiro amor, retiro por tempo indeterminado The Death of Ferdinand de Saussure, dos Magnetic Fields (ui, isso veio muuuuuuuuito depois), e fica a tocar na coluna ao lado a música pirosa das Bangles.]

Mais tarde o Rui B. deixou de me ligar, enquanto eu me apaixonava pelo melhor amigo dele.

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