domingo

What a stupid thing to say

Acabo de perder o respeito pela revista Intelligent Life, Life.Culture.Style, uma publicação associada ao The Economist (com boas referências, portanto). Tudo por causa de um deslize, um pormenor - coisas a que dou muita importância. Ora, uma revista que se chama Intelligent Life (IL) tem a obrigação de ser não menos do que perfeita, ou então será o cúmulo da pedantice.

A maior chamada de capa do último número da IL (Verão de 2009) remete para um artigo sobre o Genographic Project, que a partir da recolha de centenas de milhar de amostras de ADN de pessoas de todo o mundo está a desenvolver um estudo para explicar, basicamente, como é que do continente africano viemos parar aqui, onde quer que seja, com as nossas características fisionómicas (e etc.). No editorial, Tim de Lisle - ao contrário do que acontece com o The Economist, todos os textos na IL são assinados - faz uma introdução a esse artigo, onde a certa altura escreve: «Its subtext [do artigo] is that racism isn't just wrong, it's stupid. There are still many cultures, and of course there can be tensions between them. But if the word multicultural still makes sense, its sister multiracial doesn't.» (o bold é meu)

Esta última frase já teria por onde se lhe pegar, nomeadamente pela primeira parte, pois tenho ouvido dizer, da boca de quem se dedica a pensar nestas coisas e a quem reconheço autoridade, que o Multiculturalismo está ultrapassado, é um modelo que falhou, e que agora é a Interculturalidade que, digamos, está a dar. Mas adiante. É a segunda parte da afirmação, que diz que a palavra "multi-racial" já não faz sentido, que me interessa. Obviamente, concordo com o que é dito. Mas o editor pelos vistos não toma atenção nenhuma ao que escreve: umas páginas mais à frente, numa coluna assinada pelo mesmo Tim de Lisle, há vários destaques sobre bandas e concertos a ter debaixo de olho durante esta estação. Chegados aos TV on the Radio (uma das pouquíssimas bandas que me teria feito ir ao Festival Optimus Alive esta semana, caso me tivessem oferecido bilhetes, que fina que eu sou), é então que se dá o deslize: «TV on the Radio touring Europe, July 9th to August 2nd. Layers of intense, uplifting rock-soul from the multiracial Brooklyn quintet who have become one of the best bands in America.» Leram bem? «the multiracial Brooklyn quintet». Oh Tim, what a stupid thing to say!

14 comentários:

  1. Tanto, mas tanto medinho que eles têm de falar nos big pink elephants in the room, e depois sai-lhes como um espirro. Qualquer dia também não há sexos, according to a leading female scientist.

    By the way, TV on The Radio foi muito bom, mas preferia vê-los numa Aula Magna.

    ResponderEliminar
  2. Um bocado exagerado, não? A IL vale muito mais do que um pequeno deslize transicional.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo, eu também preferia ver os Tv on the Radio na Aula Magna. Até comprava bilhete.

    Luís Serpa, acha mesmo que é um "minor" deslize? Quer dizer, não estamos a falar de uma gralha ou de um erro ortográfico. São as palavras que utilizamos para descrever o mundo que nos rodeia que expressam limpida e inconscientemente aquilo que sentimos. E não há revisores de jeito naquela revista? Não volto a comprar, não é assim que se fidelizam leitores.

    ResponderEliminar
  4. puro show off... que exagero.

    ResponderEliminar
  5. E o que é um blogue senão puro show-off, sempre?

    ResponderEliminar
  6. multicultural é o mundo, o adn.. como pode estar ultrapassado um conceito tão recente? de que autoridades falas? help! multiracial é categoria porno ehe

    ResponderEliminar
  7. Anónimo, talvez me tenha explicado mal. Não é a expressão "multicultural" que está ultrapassada, mas sim o Multiculturalismo como modelo social. Tentarei regressar ao assunto.

    ResponderEliminar
  8. É um deslize chato. Mas também falam nos afro-americanos e não falam nos euro-americanos. E agora falam na candidata a juíza do Supremo Tribunal como "latina" que também não é uma "americana propriamente dita". Embora tendo grande dificuldade em ignorar estas diferenças, mesmo assim os americanos acabam de eleger o Obama. Por mim dava-lhe mais uma oportunidade.

    ResponderEliminar
  9. sara, ou esse seu agudo jeitinho para ir atrás do pormenor é uma forma que encontrou para que reparem em si, ou é mesmo snobeira intelectual. a sua cruzada contra o editor e o revisor da revista é, pelo menos, uma história que devia contar ao seu terapeuta. é muito interessante a sua intolerância ao erro. tanta exigência com os outros deve fazê-la despender muito dinheiro em espelhos. também haverá estudos que confirmem que a matriz da intolerância ao erro e à cor dos outros é a mesma e radicam dos mesmos preconceitos afectivos.

    ResponderEliminar
  10. "cruzada", pedro memphis? memphis, tennessee?
    sim, claro, desde que fiz este post, não tenho pensado noutra coisa senão no linchamento do editor da revista. não baixarei os braços até que haja pelo menos uma intervenção das nações unidas.
    obrigada pela atenção. volte sempre.

    ResponderEliminar
  11. sim, mss também memphis, captial do antigo baixo-egipto. não precisa chamar a onu, nem sequer de levantar muito os braços, pois certamente que os leitores não-menos-que-perfeitos-passe-o-uso-excessivo-de-hífens da il concordarão consigo e reconhecerão que, afinal, o dito pasquim de perfeito passou, no mínimo, a insultuoso. voltarei da próxima vez como zuzu nashville. agora vou descascar feijão-verde, com licença. obrigado.

    ResponderEliminar

Escuto.