quinta-feira

Fazer dinheiro é arte


Damien Hirst ao lado de Anatomy of an Angel, na Sotheby's

«Quando, em 1494, o banco Medici faliu em Florença, os artistas e pintores a que a família generosamente encomendava trabalhos entraram em pânico. Acabara o mecenato. O banco Medici falira, devido à depressão económica e à agressão francesa. Tudo mudou. Enquanto bancos vão à falência, enterrando um modelo de negócio, nunca a arte conheceu dias tão rentáveis. Parece um paradoxo. O Lehman Brothers não conseguiu atrair dinheiro fresco e, ao mesmo tempo, em Londres, a Sotheby's continuava o seu leilão de 223 novas obras do artista Damien Hirst, tendo até agora atingido um valor de vendas de 126 milhões de euros. Isto é, quando falta liquidez para salvar um banco, há dinheiro a mais para comprar obras de arte que ainda não foram testadas pela sensatez do tempo. Um banco vale, hoje, menos do que as obras experimentais de Hirst. Isto é, uma obra cujo valor é garantido pela subjectividade é hoje considerada um investimento mais seguro do que um banco de investimento. Para além do leilão modificar radicalmente as regras de negócio das obras de arte, ele perpetua duas lógicas: a que começou nos anos 60, em que a arte começou a ser considerada um investimento, e, nas palavras de Andy Warhol, que "fazer dinheiro é arte e trabalhar é arte e bons negócios são a melhor arte". Donde quase se poderia dizer que a subjectividade da arte venceu a subjectividade dos produtos financeiros derivados. Os artistas derrotaram aqueles que foram os seus mecenas? Será esta a nova forma de negócio que aí vem?»

Fernando Sobral, A arte e a finança, hoje, no Jornal de Negócios

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