sábado

Direito à indignação (em directo)



Bairro sitiado. Fiquei de sair de casa para comprar bilhetes para The National (Aula Magna, 11 de Maio, antes que esgote?), mas receio pela minha integridade. Há bocado saí inadvertidamente para tomar um café e assustei-me: o Príncipe Real está okupado pelo PCP. Diz que hoje vai haver uma marcha.

Velhos caquéticos trazidos em camionetas e jovens proletárias nascidas no final dos anos 80 do século XX, vestidas com roupa do C&A (nada contra, boas pechinchas com qualidade suficiente para durar uma estação, é a força do neoliberalismo), aglomeravam-se ao pé do quiosque e afinavam as vozes («a luta continua, fascismo nunca mais!», valha-nos deus) ao som de Zeca Afonso (coitado, nem está cá para se defender), em repeat nos altifantes. Um jardim habitualmente tão tranquilo ao fim-de-semana... Não podem ir fazer ruído para outro lado?

E se no seu ardor revolucionário me tomassem por porca capitalista? Meti as mãos nos bolsos, não fosse alguém reparar que não as tenho calejadas. Ou pior, e se alguém me tomasse por aderente à turba? Pus os óculos escuros (felizmente não são de marca) e afastei-me devagar, em pânico. Tranquei-me a sete chaves, com as janelas de vidro duplo fechadas. Cá estamos.

(Nota: o adorável senhor da fotografia não é o Pacheco Pereira)

I think this place is full of spies
I think they're onto me
Didn't anybody, didn't anybody tell you
Didn't anybody tell you how to gracefully disappear in a room


I know you put in the hours to keep me in sunglasses, I know
And so and now I'm sorry I missed you
I had a secret meeting in the basement of my brain
It went the dull and wicked ordinary way



The National, Secret meeting

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Escuto.