Património cultural europeu da humanidade
Não, não pretendo aqui celebrar a assinatura do Tratado de Lisboa, sobre o qual - para quê fingir? - não tenho opinião formada (desculpem lá).
Trata-se de um pequeno episódio que me deixou indignada. (Volta e meia indigno-me, e não é assim tão raro.) Aconteceu num voo da TAP, Londres-Lisboa, há um pouco menos de um mês. Tinha estado a descansar os olhos (vá, dormitava) e quando os abri vi que passava nas televisões minúsculas um filme que imediatamente reconheci: Jour de Fête (Há Festa na Aldeia, 1949). «Que boa ideia!», pensei, e apressei-me a chamar a hospedeira para lhe pedir uns auriculares. Qual não é o meu espanto quando ela me responde: «Não temos.» Como não?! Como é que era suposto ver-se o filme, sem O SOM? Ela explicou, com a maior das naturalidades: «É mudo, não tem diálogos.» E sorriu. Eu não estava a acreditar no que ouvia e ora olhava para ela de boca aberta, ora olhava para as imagens (também de boca aberta), sem saber como fazer valer o meu ponto de vista. Teve tanto azar que segundos depois aparecem legendas no ecrã. «Com que então não há diálogos?! Já para não falar da música!», exclamei, com toda a razão. Ela ficou um bocado atrapalhada e foi buscar um comissário. (É sempre conveniente ter um homem a bordo para lidar com passageiros que reivindicam coisas estranhas.) Ele lamentou a situação, quase solidário com o meu constrangimento, e disse que nunca davam auriculares em voos de curta duração. (Se calhar os assentos do avião nem tinham entradas/saídas de som. Não interessa, a questão é outra.) Eles não tinham culpa, mas eu continuei a refilar: «É um filme do Jacques Tati... Não é nenhum blockbuster, haja respeito!» Lamentaram de novo e disseram-me para preencher o livro de reclamações quando aterrássemos. Desisti, até que agora ressurgiu a vontade de exercitar o meu direito à indignação.
Ao cuidado dos "programadores" da TAP. Pff...
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Escuto.