quarta-feira

Ambrósio, apetece-me Schopenhauer

(...)ANTES DE TUDO, devemos considerar a essência de toda a controvérsia, o que nela se passa de facto.
O nosso oponente afirmou uma tese (ou nós próprios, pouco importa). Para a refutarmos, existem dois modos e dois caminhos.

1. Os modos: (...)podemos demonstrar, ou que esta tese não está de acordo com a natureza das coisas, isto é, com a verdade objectiva absoluta; ou que ela é inconsistente com outras alegações ou concessões do nosso oponente, isto é, com a verdade subjectiva relativa. Este último modo produz apenas uma convicção relativa, e não importa em nada para a verdade objectiva da questão.
2. Os caminhos: 1) a refutação directa, ou 2) indirecta. A directa ataca a tese pelos seus fundamentos; a indirecta, pelas suas consequências. A refutação directa demonstra que a tese não é verdadeira; a indirecta, que ela não pode ser verdadeira.(...)

ESTRATAGEMA 1
A EXTENSÃO. Ampliar a afirmação do oponente para além dos seus limites naturais, interpretá-la da maneira mais geral possível, tomá-la no sentido mais lato possível e exagerá-la; e, por outro lado, reduzir a nossa ao sentido mais restrito, aos limites mais estreitos que forem possíveis: pois quanto mais geral se tornar uma afirmação, mais ela estará sujeita aos ataques.(...)

ESTRATAGEMA 2
Utilizar a Homonímia para estender a alegação àquilo que pouco ou nada tem de comum com o objecto do debate, senão o mesmo termo, e depois refutá-lo de forma triunfante, como se se houvesse refutado a própria afirmação.(...)

EXEMPLO 1. A: «Você ainda não está iniciado nos mistérios da filosofia kantiana.»
B: «Ah, se se trata de mistérios, não quero ter nada a ver com isso.»(...)

ESTRATAGEMA 8
Fazer encolerizar o oponente: pois no seu furor ele fica incapaz de um juízo correcto e de perceber o que é do seu interesse. Podemos encolerizá-lo sendo repetidamente injustos para com ele, fazendo chicana, e, em geral, sendo insolentes.(...)

ESTRATAGEMA 34
Quando o oponente não dá resposta directa a uma pergunta ou a um argumento, mas se furta a ela com uma contra-pergunta ou uma resposta indirecta, ou algo que não tenha a ver com o debate e tenta mesmo desviar o assunto, essa é a prova evidente de havermos tocado um ponto fraco (por vezes sem o sabermos): da parte dele, é um modo relativo de se calar. Há pois que insistir no ponto suscitado e não deixar que o oponente a ele se furte, mesmo que não se saiba ainda em que consiste ao certo a fraqueza que atingimos.(...)

ÚLTIMO ESTRATAGEMA
Quando percebemos que o oponente é superior e que não iremos ganhar, tornamo-nos pessoais, insultuosos, grosseiros.(...)É um apelo das faculdades do espírito às do corpo, ou à animalidade. Esta regra é muito apreciada, visto cada um a poder aplicar, e por conseguinte, é usada com muita frequência...


Ambrósio, já chega!

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