Interneta
Quando cheguei ao mundo ele já tinha partido, mas lá em casa sempre ouvi referirem-se à figura familiar como "Avô General" (mais por brincadeira, apesar de ser verdade).
O meu bisavô (e da Mónica, minha prima, não a Vitti) foi Governador da Guiné entre 1932 e 1940, em pleno Estado Novo. A Wikipédia confirma-o. É um facto, e para mim, um tópico interessante. Foi quem se manteve mais tempo no cargo. Dos três volumes que escreveu sobre a ex-colónia portuguesa, com cerca de 1500 páginas (não fez a coisa por menos), cito texto introdutório:
"(...)Não encontram os portugueses da Guiné razão que possa justificar, explicar sequer, o desinteresse que, na Metropole, existe por esta Colónia e que não é mais do que o resultado do desconhecimento em que, sobre ela, vive o país soberano, embora nos ultimos anos, as exposições, as conferencias e a propria, mas limitada, acção oficial, tenham quebrado o mutismo que a envolvera nas brumas de lendas terrorificas de um país inóspito, onde perigos de toda a natureza espreitavam o «branco».
Vir para a Guiné, é ainda, no espírito de muita gente portuguesa do Continente, subir irremediavelmente a um cadafalso onde os carrascos são as febres, as feras e... os pretos!
E este juizo perdura na imaginação popular, a 490 anos da descoberta de Nuno Tristão!
Deliberando fazer a publicação destas páginas, quere o Governador da Guiné contribuir com elementos, cuidadosamente verdadeiros, para que o País forme um conhecimento que não possue, e que lhe é necessário, sobre uma das suas colónias mais ignotas.(...)" - Junho de 1936
Sendo fiel ao original, não me responsabilizo pela eventual má colocação de vírgulas, erros de gramática, etc., pelo meu bisavô. Qualquer tentativa de corrigi-lo será frustrada, a não ser que ele lá onde estiver tenha acesso à internet e leia blogues. Por acaso, a ideia agrada-me... Aproveitando a embalagem, mais um excerto, retirado do capítulo sobre as populações indígenas:
"(...)Passam os bijagós por serem o elemento étnico mais inculto, de todos quantos povôam a nossa Guiné.
Este juizo que deve ter-se formado pelas descrições do seu exótico viver, sofre do desconhecimento da étnica de outras tribus, porque o que é certo é que o bijagó não é mais nem menos inculto que o felupe, o manjaco ou o balanta.(...)
De resto, o bijagó manifesta, em vários actos exteriorizadores da sua psicologia, um sentido de arte que desmente a incultura absoluta - tida como embrutecimento do espírito, refractario à assimilação, ou ignorancia crassa do mais comesinho à vida do ser consciente.
Certamente que o facto da sua organização familiar ter como princípio o matriarcado, não é bastante para firmar incultura...(...)"
LOL, Bisavô, LOL.
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