Fala com ele
- Franz, estás a torcer pela República Checa?
- Não quero falar sobre isso.
- Com o Gana levaram dois secos...
- Está calada, nem sequer viste o jogo.
- Claro que não, só vejo os de Portugal. E passámos aos oitavos-de-final!
- Com Angola e o Irão, também o Gil Vicente passava.
- Ah! Andaste a ler o maradona no DN...
- Está calada, nem sequer leio jornais portugueses.
- Bom, mudando de assunto, queres saber o que achei do teu livro?
- Se eu disser que não, adianta alguma coisa?
- Gostei muito. Mas não percebi por que é que acaba daquela maneira.
- Estás-te a referir à última frase do último conto?
- Sim. «É o que agora farei, pois este sentido é muito revelador daquela concepção do povo. O meu pai disse então:» Fim.
- O que é que tem?
- O que é que tem?!
- Tivesses lido com mais atenção o prólogo.
- «(...)O motivo da infinita postergação existe também nos seus contos. (...)No mais memorável de todos - A Construção da Muralha da China, 1919 - o infinito é múltiplo: para deter a marcha dos exércitos infinitamente longínquos, um imperador infinitamente remoto no tempo e no espaço ordena que infinitas gerações ergam infinitamente uma parede infinita que dê a volta ao seu infinito império.(...)»
- Não estás com certeza à espera que te expliquem tudo.
- Por acaso...
- Era o que mais faltava! Contenta-te com o texto do Borges, o tipo sabe o que diz.
- Franz, o Borges já morreu.
- E eu, estou vivo?
Sem comentários:
Enviar um comentário
Escuto.